Quando procuramos um autor para ler, o fazemos por diversos motivos, alguns nobres, outros nem tanto. Podemos procurá-los também por paixão. Que nem sempre é nobre, no entanto, se for esse o motivo, teremos com ele, inevitavelmente, outro tipo de relação, e outra experiência de leitura, que somente apaixonados, poderíamos ter.
Dostoiévski seria um desses autores que nos fazem apaixonar muito facilmente; com tamanha fúria e lealdade, que acabamos a mercê de sua obra, como adolescentes bobos que por idealizarem sua amada, ficam cegos para outras, sem perceberem que a cegueira é um impedimento que limita sua consciência, tornando-lhe escravo de suas próprias ilusões.
Sim, ilusões. Curiosamente, a obra de Dostoiévski é alimentada por elas. Ilusões que acompanham suas personagens, e que as tornam uma espécie de homens pensantes e até "delirantes". Quem leu "Crime e Castigo" e sofreu junto com os delírios e sentimentos contraditórios de Raskolnikov, sabe que eles, tinham o único propósito de auto-destruição; e que não fossem esses "lixos mentais", a obra não seria o clássico que é.
Existe ser mais iludido que Príncipe Michtkin ? Personagem epilético de " O Idiota" ? Um ser que está preparado apenas para fazer o bem, em um mundo que vê essa atitude como sintoma de fraqueza e até leviandade, é um homem tão mergulhado em sua própria ilusão, que só irá salvar-se na sua própria destruição.
Ilusão e destruição. Alimento e Fome...Essas são as duas paixões que parecem dominar os ímpetos das personagens de Dostoiévski, que por elas, são capazes de tudo, na base do oito ou oitenta : ou são muito boas, dando a face para ser esbofeteada, humilhando-se até a privação; ou são cruéis, a ponto de assassinar de modo frio e calculista, pobres seres que, indefesos, ficam a mercê do seu mau destino.
Talvez por isso, nos apaixonamos pela obra dele. Porque todos nós, também somos movidos pelo alimento e pela fome, porém, por sermos escravos da sociedade e dos costumes que elas nos impõe, reprimimos nossos ímpetos, porque de outra forma, seria impossível o convívio em sociedade. Nos apaixonamos por Dostoiévski porque a leitura dele nos liberta de nós mesmos. De nossos medos, de nossas fraquezas e sentimentos conflituosos, tornando nossa alma mais leve e tolerante, porque, consciente da ideia de que o criminoso e a prostituta são também filhos de Deus, e como nós, passíveis de redenção ou da destruição, conforme a escolha de cada um. Encontramos essa ideia em várias obras de Dostoiévski, e creio ser uma de suas teses mais queridas.
Creio ter respondido, em parte, a pergunta do título : Por que ler Dostoiévski ? Agora, no final desta crônica, gostaria de fazer uma segunda pergunta : Por que não ler Dostoiévski ?
Essa resposta, eu deixo à vocês, caros leitores, que ainda não leram a obra deste grande autor. A vocês, eu deixo essa pergunta, com a esperança, de que ela seja respondida logo, pelo bem ou mal de vocês, caso continuem desprezando o querido e genial russo, a quem dediquei essa crônica...
Angélica Medeiros, 22.06.2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
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Um comentário:
Gostei muito do seu ponto de vista.vou ler as obras de Dostoiévski,estava curiosa e parei aqui.obrigada.
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