segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dia de Folga

Hoje estou de folga. Para quem trabalha sábados e domingos, e folga em algum dia da semana, esse "tesouro" chamado folga é sinônimo de felicidade e sofrimento. Mas por que felicidade e sofrimento? Explico. Quando terminamos o dia de serviço sabendo que folgaremos no seguinte, dormimos em estado de graça. É como se nos libertassem de uma prisão para podermos visitar alguém querido.
Aí, quando acordamos, geralmente um pouco mais tarde, tomamos café pensando : será que vou ao cinema, ou alugo um filme, ou visitar minha avó, ou acadêmia, fazer unha, supermercado, pagar contas no banco...etc...Então começamos a entrar em pânico. Porque percebemos que em um dia apenas não será possível realizar todas essas coisas. Suspiro. Porque é preciso priorizar nossas ações, devemos fazer o que é mais importante, o que não pode esperar. Mas e minha avó? Não visito ela há tempos... Estou gorda. Acadêmia só em sonho...
Acabo o café da manhã com um gosto amargo na boca. Muitas vezes, só de raiva, nessas horas, penso em tomar uma decisão radical : já que não posso fazer tudo que quero, não farei nada ! Ficarei na cama o dia inteiro, olhando para o teto e vendo as horas passarem.
Mas aí, lembro que no dia seguinte, voltarei ao trabalho e serão mais sete ou dez dias sem folgar e que tudo que não fiz se acumulará a outras coisas que terei que fazer. Começo assim a sofrer...Um sofrimento passivo que me leva a pensar : meu Deus, o que fiz para merecer tanta provação ? Sofro uns dez minutos. Até eu cair na real e lembrar que poderei usar o carro de meu pai só até as 15:30. Como um foguete, me arrumo, pego a bolsa e vou para rua, trocando o sofrimento por uma leve satisfação. Porque, apesar de tudo, é meu dia de folga e a idéia é aproveitar o máximo que puder.
E assim, folga após folga, eu vou aproveitando e desperdiçando cada instante, deixando a vida me conduzir, a minha maneira, só que no veículo dela, até quando for conveniente, para mim, e para a empresa onde trabalho...

Angélica Medeiros, 29.11.2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

De Mulher para Mulher

O que uma mulher precisa para ser mulher ? Dela mesma. Sim, a resposta é tão simples quanto pensarmos em abraço seguido de beijo. No entanto, o que mais temos são mulheres complicando suas vidas como se o abraço devesse ser seguido de dois tapas para finalizar no beijo.
Mulheres neuroticas. É isso que são. O pior é que elas são as melhores. Quanto mais neuróticas, mais atraentes. Porque as mulheres não nasceram para tornar a vida de ninguém mais tranquila. Bobos e bobas que pensam assim.
Disse antes que a mulher precisa dela mesma para ser mulher. Sim, é fato. Porém, as mulheres não querem ser "apenas mulheres". Elas querem tudo. Isso e mais um pouco.
Ser mulher bastaria para a mulher que não refletisse sobre a responsabilidade de ser mulher. Essas são as mulheres simples, que passam a vida vendo o mundo da janela de suas casas; desocupando a mente com trabalhos manuais. Essa mulher precisa de pouco, quer pouco. São raras hoje em dia. Já a mulher neurótica, que quer tudo, por incrível que pareça não têm elas mesmas. A coisa é um pouco mais complicada...Elas não tem, mas pensam que tem. Elas querem tudo, mas no fundo, sabem que não precisam de nada, nem delas mesmas.
A mulher neurótica a gente reconhece de longe. A maioria das vezes sozinha, ou com um filho pequeno, arrumando o cabelo ou o vestido como se dependesse disso para continuar respirando. Falando alto, ou baixinho para si própria. Riem muito, são divertidas, mas capazes também das maiores grosserias. As mulheres neuróticas circulam pelos shoppings e quanto mais compram, mais reclamam com o marido pelo fato de estarem infelizes.
Mas não pensem que elas dizem a verdade. Não. Estão mentindo porque as mulheres neuróticas não são infelizes. O que elas gostam mesmo é de atazanar seus maridos. Elas não são infelizes, porém, sofrem. E esse sofrimento tende a aumentar com o passar dos anos e o aparecimento de rugas e flacidez.
Vê-se que ser mulher não é fácil. Mas mulher que é mulher, não gostaria de ser outra coisa...
Às vezes podemos até nos jogar da sacada de um prédio, ou tomar uma caixinha de remédios, mas continuamos adorando "ser mulher".
De mulher para mulher, resistindo.

Angélica Medeiros, 24.11.2010

sábado, 6 de novembro de 2010

AFORISMOS

"Quando o desejo escolhe o caminho contrário à moral, o faz de modo inconcluso." (Angélica Medeiros)

"A cor negra nos afeta tal qual o sonho de que não lembramos." ( Angélica Medeiros)

"Quanto mais jovem, menos afeito se é a busca do que pouco se falou."(Angélica Medeiros)

"Tem dias que a fome é tanta que não sabemos se o terror consiste em abençoar ou amaldiçoar nossos desejos." ( Angélica Medeiros)

"Todo poder é como fogo. Arde em silêncio, e, queima quem ousa dele aproximar-se."(Angélica Medeiros)

"A mulher deveria ser amada não pelo que ela representa, e sim, pelo ser humano que ela é "(Ángélica Medeiros)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dia de FInados

É feriado de finados. Devia lembrar dos mortos. Daqueles que nem por um milagre, veria. Mas não. Não são esses os mortos que me atormentam nesse dia de finados. Lembro é dos amores que matei e que foram enterrados há tempos. Amores que hoje batem na porta de meu coração para cobrar suas dividas para comigo.
Com cabeça baixa e lágrimas indecisas, lhes digo : " Esperem, tenho algo a lhes dizer."
Esses mortos da minha carne, sangue, e saliva, esses mortos não sabem nada !
"Como eu posso lhes pagar essa dívida se de fato nunca amei ?" Jogo astuto.
Eles esbravejam : " Não só amou como nos transformou nas lembranças mais importantes de sua vida. O maior problema é seu orgulho. É ele que precisamos vencer !"
O pior é perceber que meus amores findos me conheciam até mais que eu mesmo.
"Queria pagar minha dívida com louvor. Noites ensolaradas e nossos corpos nus entrelaçados em uma dança infernal."
"Não, sexo é muito pouco. Queremos mais!"
"O que querem então ?"
"Queremos tua alma também, da mesma forma que você roubou as nossas. Queremos que você morra para nós, e daí, teremos mais um morto para recordar, como você faz hoje, nesse dia de finados. "
" Minha alma ? Eu, morto ?"
Me rodeavam todos, feito almas penadas, esperando minha decisão.
Minutos depois, com o coração apertado, entreguei minha alma à eles. Entreguei e imediatamente, senti muita solidão. Aos poucos, fui tomando consciencia de que dali para frente, não haveria mais sentido ficar lembrando dos amantes mortos, nem em dia de finados, nem em qualquer outro dia, isso porque eles haviam finalmente me esquecido. Triste e vazio, peguei um livro e comecei a ler.
Lia e pensava em tamanha solidão que haveria de suportar nos dias que viriam.
Nascia um morto. Desalmado.
Nas penas, eu assim viveria...


Angélica Medeiros Cunha, 03.11.2010