Clara sabia que naquele domingo algo seria diferente.Não que em todo novo dia não acontecessem coisas diferentes, mas naquele domingo, algo especial, ela sentia, iria de fato acontecer...
Clara sabia e por isso trancou-se em seu quarto. Trancou-se e esperou, como quem espera a chuva passar, esse algo que inevitavelmente, aconteceria...
Ouviu então um suspiro, um que materializou-se em palavra..."Clara, Clara..." A voz falava...É preciso perdoar...É preciso perdoar a todos...
Clara então sentiu um calor inundar todo seu corpo e seus olhos se encheram rapidamente de lágrimas. Perdão, perdão, a palavra ressoava em seu ouvido, obrigando-a a dizer as coisas que ela precisava dizer, mais que por orgulho, havia por tanto tempo, calado.
"Clara, Clara, você está cercada de dor e solidão..." Quando ouviu isso, ela começou a pedir, mentalmente, perdão, primeiro aos seus pais, aos seus irmãos; perdão por todas as vezes em que ela pagou com ingratidão, todo cuidado e amor que eles lhe deram. Perdão por todas as vezes em que ela agiu por interesse próprio, e não por pura e simples caridade.
Chorando muito, ainda pediu perdão para seus amigos e todos os que trabalharam com ela. Perdão por ela ter dito e feito coisas que eles não aprovaram, mais que por indulgência, relevaram...
Perdão, Clara, a você mesma...ela disse, por fim...Porque talvez todas essas pessoas, tenham realmente esquecido de suas ofensas e de você; porque encontraram, durante suas vidas, outras pessoas, que lhes deram e receberam o amor que você foi incapaz de dar e receber, por medo e por falta de caridade...
Cansada de chorar e ciente de que pedir perdão em pensamento não adiantaria nada, Clara acabou dormindo..
Um sono sem sonhos, onde poderia esquecer daquele domingo, e recomeçar no dia seguinte, nem mais feliz, nem menos, por ter vivido algo diferente, e que de fato, a fez pensar em suas atitudes...
Atitudes que a tornaram a mulher que ela era hoje. Nem melhor nem pior que ninguém, no entanto, profundamente culpada por ser quem era. Culpa que nem um domingo, nem milhões de domingos iriam extirpar; culpa que como seu sono, era sem sonhos, e por isso mesmo, tão inútil quanto pedir perdão para si própria, em um quarto fechado, sendo, que lá fora, o dia estava lindo e perfeito para um passeio com a família...
Angélica Medeiros Cunha, 15.04.2012
domingo, 15 de abril de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário