domingo, 15 de abril de 2012

Clara e o Domingo

Clara sabia que naquele domingo algo seria diferente.Não que em todo novo dia não acontecessem coisas diferentes, mas naquele domingo, algo especial, ela sentia, iria de fato acontecer...
Clara sabia e por isso trancou-se em seu quarto. Trancou-se e esperou, como quem espera a chuva passar, esse algo que inevitavelmente, aconteceria...
Ouviu então um suspiro, um que materializou-se em palavra..."Clara, Clara..." A voz falava...É preciso perdoar...É preciso perdoar a todos...
Clara então sentiu um calor inundar todo seu corpo e seus olhos se encheram rapidamente de lágrimas. Perdão, perdão, a palavra ressoava em seu ouvido, obrigando-a a dizer as coisas que ela precisava dizer, mais que por orgulho, havia por tanto tempo, calado.
"Clara, Clara, você está cercada de dor e solidão..." Quando ouviu isso, ela começou a pedir, mentalmente, perdão, primeiro aos seus pais, aos seus irmãos; perdão por todas as vezes em que ela pagou com ingratidão, todo cuidado e amor que eles lhe deram. Perdão por todas as vezes em que ela agiu por interesse próprio, e não por pura e simples caridade.
Chorando muito, ainda pediu perdão para seus amigos e todos os que trabalharam com ela. Perdão por ela ter dito e feito coisas que eles não aprovaram, mais que por indulgência, relevaram...
Perdão, Clara, a você mesma...ela disse, por fim...Porque talvez todas essas pessoas, tenham realmente esquecido de suas ofensas e de você; porque encontraram, durante suas vidas, outras pessoas, que lhes deram e receberam o amor que você foi incapaz de dar e receber, por medo e por falta de caridade...
Cansada de chorar e ciente de que pedir perdão em pensamento não adiantaria nada, Clara acabou dormindo..
Um sono sem sonhos, onde poderia esquecer daquele domingo, e recomeçar no dia seguinte, nem mais feliz, nem menos, por ter vivido algo diferente, e que de fato, a fez pensar em suas atitudes...
Atitudes que a tornaram a mulher que ela era hoje. Nem melhor nem pior que ninguém, no entanto, profundamente culpada por ser quem era. Culpa que nem um domingo, nem milhões de domingos iriam extirpar; culpa que como seu sono, era sem sonhos, e por isso mesmo, tão inútil quanto pedir perdão para si própria, em um quarto fechado, sendo, que lá fora, o dia estava lindo e perfeito para um passeio com a família...

Angélica Medeiros Cunha, 15.04.2012

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